"Data de há muito (1996 - 2007) que a editora francesa Fremeaux & Associés iniciou a recolha e publicação, na íntegra, das gravações de Django Reinhardt. Vem agora de sair a última caixa dessa “odisseia” discográfica. Antes editados em separado, esta nova edição, comemorativa do centenário do nascimento do guitarrista francês, é constituída por 40 CDs e 20 folhetos num total de cerca de 800 páginas de informação detalhada (liner notes em francês e inglês). Sob a direcção de Daniel Nevers e com a chancela do responsável editorial (Patrick Frémeaux), este monumento discográfico está dividido em lotes de 3 caixas com respeito pela ordem cronológica, Sainson 1 [1928 - 1938, (14 CDs)], Saison 2 [1938 - 1947, (14 CDs)] e Saison 3 [1947 - 1953, (12 CDs)], tudo numa edição muito cuidada, informação a rodos e redobrada atenção na restituição sonora. Além de soberba prenda para os coleccionadores de jazz e entusiastas de guitarra, esta reedição sublinha o quão importante contifoi Django na história da música do Século XX, sendo este o primeiro (e talvez o único) improvisador europeu a influenciar músicos americanos. Custa a entender a tenacidade necessária para levar a bom fim um empreendimento desta envergadura, a procura incessante junto de coleccionadores, o vasculhar dos arquivos das estações de rádio e depois encontrar o exemplar em melhores condições audio. Além das fontes oficiais, existe ainda o acervo Django, tendo este adquirido, em 1948, um gravador Webster (título de uma composição de Django e que nada tem a ver com o saxofonista do mesmo nome), família conservou algumas dessas gravações. Tal audácia merecia uma ajuda pública, porque também é de dinheiro que aqui se fala. Esta integral mostra-nos um Django que vai além dos “clichés” do Hot Club de France (com Stéphane Grappelli) e da cultura cigana local, não o reduzindo a um mero guitarrista manouche. Django foi um ouvinte atento dos desenvolvimentos da música do seu tempo e um genial compositor. O período abrangido pelos anos 1947 a 1953, é dos mais importantes do guitarrista, este grava acusticamente pela última vez (em Roma, 1949, na companhia de Grappelli) e entre 1951-53, assiste-se a uma transformação estética, em muito devido às possibilidades que se abrem com a electrificação do seu instrumento. As composições são mais intimistas e as harmonias mais audazes. Só para agudizar alguns apetites, estão em preparação outras integrais de nomes tais que Louis Armstrong, Charlie Parker e Mahalia Jackson, entre alguns outros."
par Manuel PISSARRO - JAZZ.PT
par Manuel PISSARRO - JAZZ.PT