VELHARIASDIGITAIS par diario de noticias
A Frémeaux & Associés é uma editoria independente francesa dedicada à arqueologia, com queda para a « world music » e para a literatura. A sua identidade não é facil de definir, mas os seus álbuns são fáceis de identificar. Deguem-se quatro pequenos exemplos.
O grafismo de álbuns, a qualidade dos conteúdos e a inventividade das suas propostas fazem de francesca Frémeaux & Associés uma das mais interessantes editoras independentes dedicadas à « world music », departamento arqueológico. A casa de Patrick Frémeaux não é fácil de definir, e o prazer em seguir com atenção os discos que dela vão saindo deve-se, não tanto à identificação com a sua linha estética, mas, sobretudo, à imprevisibilidade dos seus lançamentos : do jazz de Lester Young aos discursos do general De Gaulle, da leitura da obra de Louis Ferdinand Céline à gravação do cantar dos pássaros mediterrânicos, passando pela velha mùsica brasileira ou pelo fado, tubo cabe no seio da prestigada Frémeaux, desde que tenha um toque de exotismo ou um leve odor a prateleiras poeirentas.
Do Quebeque a Cuba
Grande parte da sua fama nasceu dos seus cuidados mergulhos em arquivos sonoros mais ou menos desconhecidos. É esse o caso do duplo álbum « Québec – Cent Ans de Chansons Folkloriques ». Englobado temas registados entre 1917 e 1954, este trabalho traça um retrato bastante consistente do folclore na região francófona do Canadá, durante a primeira métade do século XX. Apesar de estar inserida numa tradiçião europeia, a canção do Quebeque acabou por se ramificar, em virtude do isolamento das primeiras comunidades de colonos, que dificultava as tros culturais, estimulando, ao mesmo tempo, a variedade de géneros e de interpretações, pelo menos até à revolução industrial de meados do século XIX. Esta diversidade acabou por invadir outros países de influência francófona, e por isso não dixa de ser natural que temas como « On Est Canayen ou Ben on l’Est Pas » (1930) ou « Martin La Gran’Barbe » (1929) nos soem familiares. A paleta de interpretações é bastante alargada, e vai desde quarteto vocais a excelentes duos, como é o caso de Alan Mills & Hélène Baillargeons ? Apesar da mà qualidade do som, este um conjunto de registos altamente recomendáveis. Mais leve e inocente, mas com a simpatia dos ritmos das Caraíbas, « Félix Valvert – Les Années Cubaines 1994-1948 » reúne num único disco as rumbas que transformaran a cervejaria La Coupole, em Paris, num dos maiores templos da música sul-americana. Valvert era um saxofonista tenor natural de Guadalupe (morreu em 1995, aos 90 anos de idade), cujo talento pode ser aferido em faixas como « Babalu », mas que não demorou a saltar do seu instrumento de eleição para a direcção de Feli’s Boys Orchestra, que aqui podemos ouvrir em clássicos intemporais como « Mucho Mucho Mucho » ou « Brazil » (cujos créditos são erradamente atribuídos a um tal de M. Lecuona, jà que apenas se trata de uma varição da « Aquarella do Brasil » de Ary Barroso), em muito devedores dos excelentes vocaís de Pedro Lugo Machin. A Paris do pós-guerra tinha tudo para ser um lugar muito frequentavel.
Velho som, novo disco
Que a Frémeaux & Associés não se dedicada unicamente à « world music », aí está « Live ! » para o provar. Registo ao vivo de um já envelhecido mas ainda incansável Screamin’Jay Hawkins, ele documenta a apetência apra pisar palcos desta figura marcante do dealbar do rock’n’roll, falecida em Fevereiro. Brilhante intérprete de temas como « Tutti Fruti » e compositor de sucessos como « I Put A Spell On You » ou locuras como « Constipation Blues », Screamin’Jay Hawkins é um « entertainer » de primeira água, como um humor picarte « on the rocks » e muita extravagância (a alcunha « screamin’ » não nasceu por acaso). Gravado en 1988 no Meridien de Paris, este « Live ! » é, por incrível que pareça, o seu primeiro registro ao vovo. Traçando um panorama alargado da sua carreira e evidenciando toda as suas qualidades, é um disco indispensável para todos os admiradores do rock’n’roll. « The Devil is on the losse ». « Sleep Sound in the morning » é um dos (poucos) casos de discos novos e originais – o som é tao bom que até estranhamos – lançados pela Frémeaux. Da autoria de Fiddlin’lan MacCamy, ele apresenta uma dúzia de « jigs » e « reels », que convidam à dança e põem os tímpanos aos saltos. Como se pode ler no « press release », « se a armosfera do « deck » de teceira classe do ‘Titanic » trouxe alegria ao seu caração », então este disco tem todas as condições para o satisfazer. Não porque a música seja de terceira classe, mas porque McCamy, que até é natural de Nova lorque (apeser de ter antepassados escoceses), é um digno cultor da herança céltica. E o álbum ainda tem outra qualidade : o seu grafismo é da autoria de Robert Crumb, com o trço que catapultou os « underground comics » americanos para o estrelato. Aconselhável para coleccionadores de BD e apreciadores de violino.
João Miguel TAVARES
© DIARIO DE NOTICIAS
A Frémeaux & Associés é uma editoria independente francesa dedicada à arqueologia, com queda para a « world music » e para a literatura. A sua identidade não é facil de definir, mas os seus álbuns são fáceis de identificar. Deguem-se quatro pequenos exemplos.
O grafismo de álbuns, a qualidade dos conteúdos e a inventividade das suas propostas fazem de francesca Frémeaux & Associés uma das mais interessantes editoras independentes dedicadas à « world music », departamento arqueológico. A casa de Patrick Frémeaux não é fácil de definir, e o prazer em seguir com atenção os discos que dela vão saindo deve-se, não tanto à identificação com a sua linha estética, mas, sobretudo, à imprevisibilidade dos seus lançamentos : do jazz de Lester Young aos discursos do general De Gaulle, da leitura da obra de Louis Ferdinand Céline à gravação do cantar dos pássaros mediterrânicos, passando pela velha mùsica brasileira ou pelo fado, tubo cabe no seio da prestigada Frémeaux, desde que tenha um toque de exotismo ou um leve odor a prateleiras poeirentas.
Do Quebeque a Cuba
Grande parte da sua fama nasceu dos seus cuidados mergulhos em arquivos sonoros mais ou menos desconhecidos. É esse o caso do duplo álbum « Québec – Cent Ans de Chansons Folkloriques ». Englobado temas registados entre 1917 e 1954, este trabalho traça um retrato bastante consistente do folclore na região francófona do Canadá, durante a primeira métade do século XX. Apesar de estar inserida numa tradiçião europeia, a canção do Quebeque acabou por se ramificar, em virtude do isolamento das primeiras comunidades de colonos, que dificultava as tros culturais, estimulando, ao mesmo tempo, a variedade de géneros e de interpretações, pelo menos até à revolução industrial de meados do século XIX. Esta diversidade acabou por invadir outros países de influência francófona, e por isso não dixa de ser natural que temas como « On Est Canayen ou Ben on l’Est Pas » (1930) ou « Martin La Gran’Barbe » (1929) nos soem familiares. A paleta de interpretações é bastante alargada, e vai desde quarteto vocais a excelentes duos, como é o caso de Alan Mills & Hélène Baillargeons ? Apesar da mà qualidade do som, este um conjunto de registos altamente recomendáveis. Mais leve e inocente, mas com a simpatia dos ritmos das Caraíbas, « Félix Valvert – Les Années Cubaines 1994-1948 » reúne num único disco as rumbas que transformaran a cervejaria La Coupole, em Paris, num dos maiores templos da música sul-americana. Valvert era um saxofonista tenor natural de Guadalupe (morreu em 1995, aos 90 anos de idade), cujo talento pode ser aferido em faixas como « Babalu », mas que não demorou a saltar do seu instrumento de eleição para a direcção de Feli’s Boys Orchestra, que aqui podemos ouvrir em clássicos intemporais como « Mucho Mucho Mucho » ou « Brazil » (cujos créditos são erradamente atribuídos a um tal de M. Lecuona, jà que apenas se trata de uma varição da « Aquarella do Brasil » de Ary Barroso), em muito devedores dos excelentes vocaís de Pedro Lugo Machin. A Paris do pós-guerra tinha tudo para ser um lugar muito frequentavel.
Velho som, novo disco
Que a Frémeaux & Associés não se dedicada unicamente à « world music », aí está « Live ! » para o provar. Registo ao vivo de um já envelhecido mas ainda incansável Screamin’Jay Hawkins, ele documenta a apetência apra pisar palcos desta figura marcante do dealbar do rock’n’roll, falecida em Fevereiro. Brilhante intérprete de temas como « Tutti Fruti » e compositor de sucessos como « I Put A Spell On You » ou locuras como « Constipation Blues », Screamin’Jay Hawkins é um « entertainer » de primeira água, como um humor picarte « on the rocks » e muita extravagância (a alcunha « screamin’ » não nasceu por acaso). Gravado en 1988 no Meridien de Paris, este « Live ! » é, por incrível que pareça, o seu primeiro registro ao vovo. Traçando um panorama alargado da sua carreira e evidenciando toda as suas qualidades, é um disco indispensável para todos os admiradores do rock’n’roll. « The Devil is on the losse ». « Sleep Sound in the morning » é um dos (poucos) casos de discos novos e originais – o som é tao bom que até estranhamos – lançados pela Frémeaux. Da autoria de Fiddlin’lan MacCamy, ele apresenta uma dúzia de « jigs » e « reels », que convidam à dança e põem os tímpanos aos saltos. Como se pode ler no « press release », « se a armosfera do « deck » de teceira classe do ‘Titanic » trouxe alegria ao seu caração », então este disco tem todas as condições para o satisfazer. Não porque a música seja de terceira classe, mas porque McCamy, que até é natural de Nova lorque (apeser de ter antepassados escoceses), é um digno cultor da herança céltica. E o álbum ainda tem outra qualidade : o seu grafismo é da autoria de Robert Crumb, com o trço que catapultou os « underground comics » americanos para o estrelato. Aconselhável para coleccionadores de BD e apreciadores de violino.
João Miguel TAVARES
© DIARIO DE NOTICIAS